sexta-feira, 21 de agosto de 2009

IGREJA: IDENTIDADE E MISSÃO


Autor: Pr. Djalma Torres
Todos nós concordamos que a história da humanidade é dinâmica, mas quantos de nós concordamos que também assim é a vida da Igreja? É ela um organismo vivo e dinâmico. Tem sido ela estruturada não só com base nos textos bíblicos, mas também dos concílios, dos dogmas, dos sacramentos, dos cânones. Tem vivido ela de acordo com a conjuntura de cada época, ora sujeita ao poder temporal, ora colocando-se acima desse mesmo poder; em alguns momentos aliando-se parcial ou totalmente a tais forças e sistemas de poder. Tem ela, do mesmo modo, criado movimentos de reação ao status quo de determinados períodos da História. E tem ela, às vezes, de maneira covarde e pecaminosa, legitimado sistemas de degradação do ser humano, ou em nome de Deus perdido a compostura e a dimensão de sua identidade divina. Mas, ainda assim, ela é a Igreja de Jesus Cristo, que não será tragada pelo Diabo.
IGREJA: IDENTIDADE E MISSÃO
Mateus 16:13-18; 18:15-17 e 28:18-20
Introdução
" Ainda estamos, muitos de nós, de algum modo, sob o impacto do seminário que a Igreja realizou sobre Ecumenismo. E na esteira de sua realização e na tentativa pastoral de ajudar a Igreja na melhor compreensão do assunto é que preparamos a mensagem desta noite, sobre Identidade e Missão da Igreja.
" Como é certo que os irmãos e as irmãs, ao saírem daqui nesta noite, só vão se
lembrar de 50% do que eu disser, e amanhã só se lembrarão de 10%; por considerar que me coloquei nas mãos de Deus para este momento; e por sentir que a mensagem é por demais relevante para os nossos dias, não pela importância do pregador, mas pela magnitude do tema, trouxe várias cópias do texto escrito, para oferecer aos que desejarem considerar mais seriamente o assunto.

1. Um quadro geral sobre a Igreja no Brasil
Somos, quase todos nós aqui nesta noite, membros de uma Igreja. O que significa isto? Qual a importância que este fato tem em nossa vida? Como nos situamos no seio da igreja, hoje representada através de tantas faces, e que pode ser vista sob muitos e diferentes olhares? Há no Brasil, hoje, centenas de denominações. Não me refiro a comunidades, porque estas são milhares.
" Há 3 denominações católicas: Igreja Católica Apostólica Romana; Igreja Católica Apostólica Independente e Igreja Católica Brasileira.
" Há 2 denominações luteranas: IECLB  Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e IELB  Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
" Há 2 denominações episcopais: A Igreja Episcopal de Comunhão Anglicana e a Igreja Episcopal Carismática do Brasil.
" Há 2 denominações metodistas: A Igreja Metodista do Brasil e a Igreja Metodista Wesliana.
" Há 4 denominações presbiterianas: A IPB  Igreja Presbiteriana do Brasil, a IPI  Igreja Presbiteriana Independente, a IPU  Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e a Igreja Presbiteriana Renovada.
" Há 1 denominação Congregacional
" Há dezenas de denominações pentecostais, desde as tradicionais assembléias de Deus, hoje divididas, até às Pentecostais de todo tipo. Antes da entrada de Alagoinhas há uma Igreja Pentecostal: Igreja Pentecostal Pronto Socorro de Jesus. Parece mais, pelo título, uma clínica de acidentes do que uma comunidade religiosa.
" Há uma série de denominações evangélicas recentes, como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Renascer em Cristo e diversas outras, algumas delas meras empresas evangélicas, que ganham dinheiro e se enriquecem às custas dos problemas humanos e em nome de Deus. E o que é ainda pior: Organizam o seu discurso em críticas à Igreja Católica, aos Terreiros de Candomblé e de Macumba e Centros Espíritas, mas os símbolos e elementos de "venda" de milagres são os mesmos, sob forma diferente e roupagem modificada, o que revela falta completa de escrúpulo e de ética.
E há dezenas de denominações batistas no Brasil, desde a maior delas, representada pelas igrejas pertencentes à Convenção Batista Brasileira; ao 2o grupo, da Convenção Batista Nacional, até outras inúmeras denominações menores e igrejas independentes, como a 1a Igreja Batista Bíblica Fundamentalista de Vitória da Conquista e a Igreja Batista Nazareth, para citar dois exemplos extremos. Na Boca do Rio há uma Igreja Batista do Espírito Santo.
Neste quadro bastante diversificado, um verdadeiro mosaico religioso evangélico, as igrejas revelam muitas faces, que vão desde o conservadorismo à postura liberal; do fundamentalismo à renovação carismática; do radicalismo à teologia da prosperidade; da doutrina clássica ao G12, da intolerância religiosa ao compromisso ecumênico.
E como se não bastasse este perfil desconcertante, ainda existe a Igreja eletrônica, para todo gosto, nas emissoras de rádio, nos canais e redes de televisão e na internet.
E como se ainda fosse pouco, há comunidades alternativas de minorias, como homossexuais, do diabo, dos ancestrais, etc.

2. A identidade da Igreja
Esta situação tão diversa e complicada, nos leva a um natural questionamento: Que é a Igreja, na verdade? Como escolher uma Igreja? Como seguir a uma Igreja? Como deve ser a Igreja?
Se nos voltarmos para Jesus Cristo, não há muita coisa. Só 2 vezes ele falou sobre o assunto. A primeira em Mateus 16:13-18, um texto profético, porque não havia Igreja ainda e ela só surgiria algum tempo depois. A outra vez foi em Mateus 18:17, e a referência era à comunidade dos judeus, a sinagoga. Também ainda não havia igreja cristã.
Fora de Jesus Cristo a Igreja é designada por mais de uma dezena de títulos. Os dois mais conhecidos são Corpo de Cristo, em Paulo (I Cor.12:12?) e povo de Deus, em Pedro (I Pedro 2:9-10) .
Mas, se não havia igreja com Jesus Cristo, os textos de Mateus lidos acima, nos autorizam a afirmar ser a Igreja de identidade divina. Ela pertence a Ele, Jesus Cristo, o Senhor, que a estabeleceu e dela é a cabeça. Aqueles que a compõem  homens e mulheres pecadores  são novas criaturas, transformadas por Jesus Cristo, conforme afirmações paulinas.
Este é o conceito mais simples e mais aceito de definição de Igreja que há entre todos os cristãos. Podem algumas denominações mudarem a forma, mas não o conteúdo da compreensão da Igreja.

3. A Missão da Igreja
Mas há na Igreja uma outra dimensão, que nos preocupa sempre. É sobre o papel da Igreja no mundo. E o texto clássico é o que também lemos nesta noite. Mateus 28:18-20. E é justamente neste texto que aprofundamos a questão sobre a Missão da Igreja no mundo.
Todos nós concordamos que a história da humanidade é dinâmica, mas quantos de nós concordamos que também assim é a vida da Igreja? É ela um organismo vivo e dinâmico. Tem sido ela estruturada não só com base nos textos bíblicos, mas também dos concílios, dos dogmas, dos sacramentos, dos cânones. Tem vivido ela de acordo com a conjuntura de cada época, ora sujeita ao poder temporal, ora colocando-se acima desse mesmo poder; em alguns momentos aliando-se parcial ou totalmente a tais forças e sistemas de poder. Tem ela, do mesmo modo, criado movimentos de reação ao status quo de determinados períodos da História. E tem ela, às vezes, de maneira covarde e pecaminosa, legitimado sistemas de degradação do ser humano, ou em nome de Deus perdido a compostura e a dimensão de sua identidade divina. Mas, ainda assim, ela é a Igreja de Jesus Cristo, que não será tragada pelo Diabo.
Hoje, irmãos e irmãs, no meio dessa miscelânea religiosa, nós vivemos a angústia do questionamento, sobre a Igreja. Queremos, nesta noite, fazer algumas considerações que considero, diante de Deus, como pastor, sobremodo relevantes. E falo a Nazareth, na esperança de que o som da minha voz ecoe além das paredes desta casa que dedicamos ao Senhor.
O centro da preocupação de Deus não é a Igreja e nem a alma de ninguém. É a criação  o ser humano e a natureza. É a vida! Temos sempre de voltar ao Gênesis, ao princípio, ao ato amoroso e cuidadoso de Deus que nos deu a vida. E depois de lá nos sustentarmos nos braços de Jesus Cristo, que também veio para nos dar a vida. É a vida, irmãos e irmãs, o grande tema, a grande questão que deve centralizar a missão da Igreja.
Que foi Israel? Que é a Igreja? São a grande parábola que Deus nos conta. São instrumentos dos quais Deus se serve para falar do seu amor ao ser humano, para trazê-lo de volta para si. É preciso entender a parábola no turbilhão da vida. Através da Igreja Deus nos quer falar de algo ainda mais grandioso, mais extraordinário, mais espetacular.
Não há mais lugar para Israel no plano de Deus. Ele já cumpriu a sua missão.Nem os grandes fenômenos do passado bíblico são mais relevantes. Quantos de nós não nos emocionamos com a narrativa da passagem pelo Mar Vermelho? Quem assistiu a abertura das Olimpíadas de Atenas, viu um espetáculo ainda maior do que o do Mar Vermelho. Os gregos criaram, em plena Vila Olímpica, um mar, um mar que teve um barco navegando e um casal de namorados se banhando. E depois, em três minutos, o mar secou e as delegações se concentraram lá, de pé enxuto. Deus não é Deus de fenômeno, mas da vida do ser humano encravada na História. Hoje é o tempo da Igreja. E nós somos alertados, a não brincarmos de Igreja, a não banalizarmos a Igreja, a não desonrarmos a Igreja.
Passamos o tempo - e são dois milênios - criando regras na Igreja, na tentativa de submeter o ser humano às loucuras de líderes doentes alguns, mercenários outros e sedentos de poder e glória outros tantos, e nos esquecemos de que a Igreja existe para servir e não para subjugar o ser humano, nem submetê-lo a doutrinas extravagantes e nem escravizá-lo, cerceando a beleza e a riqueza de sua vida, dom de Deus.
E enquanto isso, forjamos em nossas famosas escolas dominicais seres esdrúxulos, como um George W. Bush, um nazista da pós-modernidade. Criamos movimentos tipo G12, um desvio doutrinário de origem duvidosa, e nos esquecemos da fome que mata milhares todo dia, durante um ano todo, todo o tempo.
Há um poema de Manuel Bandeira, intitulado O BICHO, que bem caracteriza a situação da miséria na atualidade: Vi ontem um bicho / Na imundície do pátio / Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, / Não examinava nem cheirava: / Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, / Não era um gato, / Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.
Enquanto estamos aqui nesta noite, centenas de crianças estão morrendo ao redor do mundo, inclusive em Salvador. Nas ruas de São Paulo adolescentes estão se degradando pelo uso de crack. E muita gente, jovens e adultos, vivem o desespero da solidão, do isolamento, da dúvida, de uma vida sem sentido, sem razão de ser, sem finalidade. E isto não acontece nos desertos, mas nas grandes metrópoles. Em plena multidão, em nossos dias, há sempre alguém mergulhado no mundo de sua solidão e dor.
Sinto, muitas vezes, uma dificuldade muito grande de entender as pessoas que passam o tempo todo na Igreja falando de amor, de justiça, de fé, de esperança, de solidariedade, de salvação, de céu e de inferno, mas não são capazes de transformar tudo isto em ações concretas em favor do ser humano imagem e semelhança de Deus e do mundo criado por ele para o deleite humano.
Estamos num mundo desesperado. De homens e mulheres desesperados. Um mundo de mais de 6 bilhões de pessoas: 6,212 bilhões em 2002. Os cristãos todos, em todo o mundo, não chegam a um terço dessa população. (Católicos, em 2002 1,071bilhão). E não só não conseguimos semear nos "campos brancos para a ceifa", como ainda vivemos nos digladiando uns com os outros. Centralizamos as nossas discussões no mundo pequeno das nossas convicções doutrinárias em detrimento das necessidades de Deus que o mundo fora do universo das nossas idiossincrasias está sentindo. A maior necessidade que o mundo tem hoje é de Deus. Mas o Deus da necessidade humana nem sempre é o Deus que levamos aos que de Deus necessitam. Muitas vezes é um Deus pequeno, mesquinho, interesseiro, retratado numa imagem medíocre das nossas limitações religiosas confessionais, ou de interesses inconfessáveis, se mensurados na perspectiva do plano de Deus.
No plano de Deus a Igreja não é tudo. A Bíblia não é tudo. Deus é maior do que a Igreja. Deus está além da Bíblia. Deus é o Deus do mundo todo, de todo o planeta, de todo o Universo. A missão da Igreja é refletir esse Deus que se revela ao ser humano.
A Igreja é uma manifestação desse Deus extraordinário. A Bíblia é parte dessa revelação divina cósmica. Nós somos, como Igreja, responsáveis pelo anúncio dessa boa nova, que deve ser, em essência, o gesto concreto de solidariedade, fé e amor.
É esta a compreensão que devemos ter da Igreja e de sua missão no mundo: um organismo instituído pelo Senhor. Um corpo que se completa em Jesus Cristo e de um povo em peregrinação no mundo, vivendo a utopia da transformação de uma sociedade corrompida em Reino de Deus.

Conclusão
Quero concluir me desculpando com Nazareth por esta mensagem. Na verdade esta não é uma mensagem para uma pequena comunidade como esta. É, sem modéstia, uma mensagem para o mundo.
Eu sou testemunha da importância da mensagem divina para o mundo. Quando, como pastor evangélico, falo da necessidade que as pessoas têm de Deus, não há ninguém que não pare pra pensar. Pode até não levar a sério, mas para, pensa e sente a profundidade da afirmação, porque Deus, hoje, é uma necessidade existencial profunda na vida da humanidade. E a Igreja é um espaço privilegiado e sagrado de acolhimento dessas necessidades, mas temo que ela, enjaulada em seus preconceitos e estreiteza de fé, esteja perdendo a grande oportunidade de resgatar vidas preciosas do vazio e da insignificância sua existência.
Hoje, nós vivemos um momento escatológico. Estamos nos aproximando do fim. Eu começo a perceber isto pela situação da Igreja no mundo, que chega ao nível de convivência com o mal, com o diabólico. Uma Igreja incapaz de perturbar o mundo, uma igreja acomodada. Uma igreja que, além da acusação de conivência, é preterida em função de outras alternativas de resgate da humanidade sofrida.
Segundo porque há uma mudança no paradigma religioso. O eixo teológico está em processo de mudança. A grande questão que desafia o mundo religioso de hoje, não é a doutrina da Igreja, mas a vida e a criação. E nessa linha de raciocínio, há fora da Igreja uma inquietação em relação ao comportamento da Igreja sobre o assunto. E dentro da Igreja só há uns poucos comprometidos com a mesma questão. Creio que Leonardo Boff me parece estar entre estes poucos. E eu não me considero alienado e nem distante desta preocupação. Quando eu deixar Nazareth espero ter condições intelectuais e financeiras para me dedicar mais firmemente, como um peregrino, a esta tarefa.
Nesta noite, eu gostaria de desafiar Nazareth a caminhar em direção ao propósito de Deus. A deixar a superficialidade, a crescer na visão das necessidades do mundo, a ser fiel ao chamamento divino, a se entregar com coragem, fé e determinação ao compromisso cristão de ir ao encontro das necessidades humanas mais profundas e de colocar Deus acima dos seus interesses, de seu mundo pequeno e estreito.
Nesta noite eu gostaria de convidar a todos e a todas que aqui se encontram, jovens e adultos, mulheres e homens, leigos e pastores, a um voto de compromisso, de dedicação ao serviço do Senhor. Há em Nazareth ainda diversas pessoas, jovens e adultos, que podem ter feito este voto para si mesmos, mas ainda precisam fazê-lo publicamente, corajosamente, perante todos e diante de Deus.

Amém.

Um comentário:

Alexandre e Fernanda Unidos para Louvar a JESUS CRISTO disse...

A PAZ DO SENHOR QUERIDOS
EU GOSTARIA DE PEDIR AOS IRMÃOS QUE DIVULGASSEM NOSSO SITE : www.sosmissoes.webnode.com.br
digo "nosso" pois ele está aberto para todos os que quiserem estar anunciando as boas novas de JESUS CRISTO a todas as nações.
dede já agradeço pela atenção
fiquem com DEUS