Num mundo cada vez mais individualista, quem são as pessoas que arriscam suas vidas para salvar desconhecidos?
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Um dos casos mais emblemáticos e recentes é o do estudante Vítor Suarez Cunha, de 21 anos, que foi espancado após tentar defender um morador de rua, que apanhava de um grupo de jovens de classe média, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, no início do mês passado. Ao deixar o hospital, Cunha – que recebeu oito placas de titânio na testa e no céu da boca, assim como 63 parafusos para reconstituir a face – recusou o título de herói e disse não ter se arrependido de defender o mendigo. "Vi uma pessoa sendo agredida e pedi para parar. Fui falar na boa, mas aí aconteceu o que aconteceu. Faria tudo de novo hoje e faria tudo de novo amanhã", disse, em entrevista, ao sair do hospital. O rapaz afirmou que espera que seu caso sirva para que pais ensinem os filhos a "mudar as coisas". "Espero que o meu caso sirva de exemplo. Que as pessoas lembrem e passem um ensinamento para os seus filhos. Pequenas atitudes vão mudando as coisas", afirma.
O psicólogo Paulo Francisco de Castro, professor da Universidade de Guarulhos (UnG), diz que não é possível afirmar quais características compõem o perfil de uma pessoa que se arrisca e toma uma atitude de extrema renúncia, como Vítor. "Cada conduta ou comportamento é multifacetado, decorrente de um grande conjunto de fatores individuais, ambientais e sociais que se integram para a constituição da personalidade e do comportamento humano", explica. Segundo o especialista, o altruísmo é uma ação pessoal, motivada por razões pessoais de diferentes tipos e voltada a alvos particulares.
Segundo a psicóloga Jumara Silvia Van De Velde, também da UnG, atitudes assim podem ser tomadas por várias razões: porque essas pessoas foram educadas assim e valorizam o altruísmo, ou têm facilidade em se colocar no lugar do outro, ou até mesmo aprenderam com as circunstâncias da vida a tomar essa direção: "De novo, é difícil apontar as motivações, mas é fato que, quando um grupo se percebe sob ameaça ou perigo, muitos de seus membros vão passar a agir com o grupo, em vez de agir por si próprios".
Foi o caso do cozinheiro italiano Vito Clemente Di Mola, que estava a bordo do cruzeiro Costa Concordia, que naufragou na costa da Itália em janeiro. Ao perceber a confusão no navio, Di Mola não teve o mesmo comportamento do capitão, que abandonou rapidamente o barco. O cozinheiro não pensou duas vezes e liderou um grande grupo de passageiros que estavam desesperados. "Eu providenciei a distribuição de todos os coletes salva-vidas que eu tinha à disposição. Ao som dos alarmes de emergência, não esperei e abri a porta da minha lancha, ajudei a levar para fora do navio 150 passageiros, ou até mais. Como estávamos perto da margem, era seguro, e embarquei algumas pessoas em botes a mais que o limite", relatou o cozinheiro.
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